segunda-feira, 4 de julho de 2011

Outro poema

UMA NOITE DE DOIS GUMES





Com cinco chaves, nenhuma porta.


Com cinco frestas sobre as telhas...


Nenhuma luz convida e são escuras tais velhas


paredes semimortas e nuas.


Se um dia triste filosofa,


construo mitos sobre o riso.


Flores, vícios e um profeta


rasgam a estrada logo em frente.


Sinto a noite que bifurca e pouco me comove.


Um sopro da Lua bastaria


para que se gaste a poesia,


como força que se move,


em cima do patíbulo do dia - um novo cadafalso sem ferrolho,


a velha guilhotina enferrujada,


por gasta a face, em si, vira navalha, dois gumes de uma noite fria.

                                        (Moacir Eduão)

2 comentários:

  1. Moacir, notei um desalento?
    e todo jeito, seu jogo de palavras, seu raciocínio rápido me encantam.
    Queria ter o dom de poder brincar assim, tão seriamente, com as palavras!

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  2. Nem tanto desalento quanto todos os impulsos do que me faz vir à escrita. As noites perdidas de sono foram noites escritas com canetas de gelo. O calor as apagarão. Não se preocupe. Se o desalento, por desatenção, trouxer algumas palavras, é nesse idioma que se constitui meu divã. Beijos, Lúcia querida!

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