Lembranças, poesias e um livro pra voar!

Vez ou outra minha mãe enlouquece com a bagunça do meu quarto e me obriga aos gritos me conscientiza da necessidade de dar mínimo aspecto de ordem a minha estante de livros e eu morta de medo boa filha que sou encaro a bagunça.

A parte o fato de que eu faço isso obrigada, arrumar minha estante é um momento reflexivo, o passado, o presente e o futuro se cruzam no meio dos meus queridos livros. Brincando me pego lembrando da minha infância, adolescência, do tempo da graduação, do meu trabalho com os pequenos e vivendo algo novo com os romances, as cronicas ou a poesia.

Aliás, poesia foi a marca dessa arrumação, mas não a poesia angustiada de Fernando Pessoa, a romântica dos poetas do século XIX, nem a que fala dos problemas e soluções para nosso mundo presente. A poesia que me pegou dessa vez foi a que vem cheia de cheiros e sabores da infância.

Me peguei lendo as linhas lindíssimas que Lewis Carroll escreveu para Alice:

"Alice! Recebe este conto de fadas

E guarda-o, com mão delicada,

Como a um sonho de primavera

Que a teia da memória se entretece,

Como a guirlanda de flores murchas que

A cabeça dos peregrinos guarnece."

Lembro bem que o que me fez ler esse livro pela primeira vez há 15 anos atrás foi esse convite, eu também era Alice deixando a infância e embarcando nesse "País das Maravilhas" que é o mundo dos adultos... Lewis me avisou de tantas coisas, pena que era cedo demais para eu entender.

Me peguei ainda passeando por um jardim de flores encantada pela milésima vez com "Giroflê, Giroflá", afinal quem nesse mundo pode resistir ao convite de Cecília Meireles?

"Vamos passear no jardim das flores,

Giroflê, Giroflá,

Vamos passear no jardim das flores,

Pra não te encontrar.

O que foste fazer lá,

Giroflê, Giroflá?

O que foste fazer lá,

Pra não te encontra?"

Giroflê, Giroflá não é bem um livro de poesia, é um livro de histórias, mas esse começo parece aquelas rimas que as minhas amigas de infância cantavam enquanto pulavam corda no quintal de Ciça. Sílvia e Renata eram ótimas, eu sempre fui péssima, as meninas me toleravam na brincadeira por amor rsrs. Segundo consta no livro esses versinhos fazem parte de uma cantiga de roda.

E Vinícios de Morais com esse cheiro de escola, eu me pergunto se existe um livro de português entre a 1ª e a 4ª série que não tenha escrita em suas páginas brancas, algo como:

"Era uma casa

muito engraçada

não tinha teto

não tinha nada

ninguém podia

entra nela não

Porque na casa

Não tinha chão..."

Ou mesmo:

"Passa, tempo, tic tac

Tic-tac, passa, hora

Chega logo, tic-tac

Tic-tac, e vai-te embora

Passa, tempo

Bem depressa

Não atrasa

Não demora"

Eu só me lembro de Shelly, daquele jeito brigão, truculento e amoroso, tudo junto ao mesmo tempo... Eita que saudade de tia Shelly que me ensinou desde a primeira série que se a gente quer vencer tem que se esforça e vez ou outra brigar também.

E Drummond, com "A senha do mundo", falando de uma infância que não foi a minha. Uma infância onde o  "Primeiro Automóvel" mais parecia um bicho e ironicamente vinha puxado por bichos.

"Que coisa-bicho

que estranheza preto-lustrosa

evém-vindo pelo barro afora?

É o automóvel de Chico Osório

é o anúncio da nova aurora

é o primeiro carro, o Ford primeiro

é a sentença do fim do cavalo

do fim da tropa, do fim da roda

do carro de boi.

Lá vem puxado por junta de bois."

É poesia pra criança, mas mesmo adulta eu não consigo deixar de gostar. Coisa séria, tão séria que no meio da minha baçuncinha nada básica acabei achando uma aquisição recente a minha coleção: Efeito Pazsarinho de João Proteti.

Livro encantador, uma mistura de poesia com imagens. O João Proteti tanto escreveu cada verso quanto desenhou cada ilustração de maneira que uma coisa se junta a outra de um jeito tão lindo e tão colorido que é amor a primeira vista, causa realmente um efeito de paz que faz voar feito passarinho nas asas da imaginação.

Um avô e seu netinho, um passarinho apaixonado que fez ninho numa nuvem... um menino com um ninho na cabeça, a menina com um novelo na cabeça, a vovó, uma conversa ao telefone, um tocador de viola, a menina com um vestido estampado de passarinhos e uma surpresa são temas que aparecem nas poesias, coisa de sonho de criança com imaginação fértil, coisa de adulto com alma de criança.

Tirei até fotos de algumas das ilustrações que mais gostei, coisas tão lindinhas!!!!

Vovô que brinca com netinho deve viver mais!

Passarinho fez ninho na nuvem, isso acontece em cabeça de criança!

Eu quero um vestido desse, lindo!

Eu amei esse livro, me lembrou meu avô me chamando de Menina Passarinho. Mas, talvez por também ter um pouco de pássaro, tenho a impressão que esse livro já chegou na minha casa com vontade de voar. E como penso que é uma malvadeza sem tamanho impedi um pássaro de voar, tive uma ideia brilhante!

Vou fazer um sorteio com esse livro aqui no Em quantos no dia 29 de Julho, se você quiser participar basta comentar nesse post deixando o seu e-mail para contato.

Quem comentar até o dia 28 e deixar o e-mail para contato tá participando certo?!?! Ah, o metodo do sorteio é o famoso e tecnologicamente aprovado papelzinho \o/