- Amor, tô indo lá na Vara! Gritou a mulher na porta.
- Opa, pêra aí, que negócio indecente é esse?
- Calma, meu bem, é na Vara de família.
- Piorou, além de corno ainda tenho que passar por esse constrangimento? E com alguém da família? É algum irmão meu? Sobrinho? Ou é da sua família? Que é isso, onde estamos?
- Achei que você soubesse. Vara é a separação das especializações judiciais. Tem vara de família, vara criminal, vara civil, entendeu agora? Vou lá buscar um processo. Preciso fazer um laudo pericial.
Ah, bom, meu coração já tava aqui se despedindo. Não iria aguentar um sofrimento desses.
- Se você fosse se despedir de mim por esse motivo, teria que entrar na vara junto comigo. Mas na de família, pois é onde se fazem os divórcios, explicou ela, saindo e batendo a porta impaciente.
Há algumas denominações que nos deixam assim, intrigados, por combinarem a sua função nobre com situações cômicas. E podem se tornar trágicas se não vier uma explicação razoável para que a ignorância no assunto desapareça.
No Brasil colonial, lá no séc XVII, quando ainda nem existiam cidades, as vilas eram administradas por um regime de nomeações de pessoas de posses e títulos concedidos pela coroa portuguesa. Juízes, vereadores e homens da segurança portavam cada qual uma vara que, pelas suas características, distinguia o cargo e conferia autoridade e dignidade. O juiz (que não era do lugar, daí a expressão Juiz de fora) empunhava a sua, branca, com uma cruz sob a qual prestava juramento. O vereador levava outra, vermelha, com as figuras das armas do reino e a dos quadrilheiros (uma prévia do que viriam a ser os policiais), era verde, usada para separar briguentos de rua e efetuar prisões. 1
Não sei por que somente a justiça permaneceu com essa denominação. A polícia perdeu a vara, mas o cassete continuou garantindo as bordoadas. Já os vereadores, mesmo sem as varas, continuam com o condão, multiplicando-se em número e benefícios, sob a égide da justiça e a proteção da polícia.
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1 – In: Donato, Hernani, História dos Usos e Costumes do Brasil – 500 anos de vida cotidiana. Ed Melhoramentos, São Paulo, 2005.
PS: ESTA CRÔNICA É UMA DAS QUE CONSTAM DO MEU LIVRO ARCANCANJO ISABELITO SALUSTIANO E OUTRAS CRÔNICAS
Foi bom reler essa pérola! Legal! Sempre assim,né,Cacá!
ResponderExcluirabração,chica
Sonia querida, passei pra te desejar uma boa Páscoa junto do teu pequeno lindão. Bjo!
ResponderExcluirMuito obrigada querida Fernanda.
ResponderExcluirbeijo
kkkk Amei tudo que tem haver com história muito me interessa e nesse ramo é sempre assim: lendo e aprendendo!!!
ResponderExcluirOlá,querido
ResponderExcluirPasse no RL, na minha escrivaninha e leia o q/ está lá. bjks
Cacá, uma delícia de crônica.
ResponderExcluirEntão, os vereadores e suas varinhas mágicas...rsrsr essa foi ótima!
Pois é...Podiam tanto usar as varas para uma bordoadas uns nos outros, incluindo aí, os juízes...Estamos mal pagos, nem eles escapam mais!
Feliz Páscoa para você e sua família.
Oi Cacá
ResponderExcluirParabéns pela crônica.
Há tantas "varas" que a confusão se instala e nem a história de nossa História nos esclarece.
Perfeito!
Bjs no coração!
Nilce
Cacá, amigão!
ResponderExcluirComo sempre, uma crônica deliciosa!
Quero comprar teu livro também, será minha próxima aquisição no mundo virtual.
bjs cariocas
Hehe! Gostei da crônica!!
ResponderExcluirE gostei da observação final sobre a polícia...
To seguindo
Bj
DAni
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