Quem é aluno noturno da UFRPE sabe que quando o Barro Macacheira-Várzea ou do Rio Doce-Dois Irmãos chegam surge automaticamente uma longa fila diante da qual os estudantes fazem as mais diversas escolhas.
Alguns correm para ela de maneira a garantir um lugar sentado ou próximo a porta, em troca do que eles esperam cerca de uma hora enquanto o ônibus vai enchendo; outros ignoram e esperam um mais vazio; uns terceiros comem tranquilamente sua coxinha de galinha com catupiri bebericando caldo de cana; e ainda há uns tipos que ficam papeando até o momento no qual eles tem que correr desesperadamente para não perder o ônibus irritando muito quem entrou primeiro e achava que o ônibus já ia sair.
Foi em uma dessas ocasiões, em meio a um papo de "espera ônibus encher", que um amigo meu me contou a respeito da existência de uma poeta chamada Elizabeth Bishop cuja obra, segundo ele era fundamental que eu chegasse a conhecer.
Como a fila estava acabando meu amigo correu sem mais explicações e pegou seu ônibus, ficamos de nos falar depois. Esse depois não veio pois eu me formei e com a formatura lá se foi minha convivência quase diária com esse e muitos outros amigos.
Como a fila estava acabando meu amigo correu sem mais explicações e pegou seu ônibus, ficamos de nos falar depois. Esse depois não veio pois eu me formei e com a formatura lá se foi minha convivência quase diária com esse e muitos outros amigos.
Hoje eu lembrei dessa ocasião e fuçando descobrir essa Elizabeth, reza a lenda que ela foi uma autora americana, uma das mais importantes poetisas do século XX, em língua inglesa, e viveu cerca de 20 anos no Brasil, antes de voltar para sua terra consagrada.
A Wikipédia diz que ela:
"Gastava meses, por vezes anos, escrevendo um poema apenas, trabalhando para obter um sentido de espontaneidade. Apaixonada pela exatidão, recriou os mundos do Canadá, América, Europa e Brasil. Não admitia ter pena de si mesma, mas seus poemas mal escondem todas as dificuldades como mulher, como lésbica, como órfã, como viajante sem raízes, ou asmática frequentemente hospitalizada, mulher que sofria de depressão e por vezes alcoolismo."
Bem, eu não sei ao certo qual o ponto no qual termina a lenda e começa a realidade... Há tantas informações desencontradas sobre tantas coisas na net que me pergunto o que é certo e errado da mesma forma que me pergunto acerca dos motivos de meu amigo me indicar a leitura de tão curiosa escritora.
O que sei é que de todas as pequenas coisas que li dela a que mais gostei diz respeito ao poema "Arte de Perder" com o qual encerro esse post que ficou pra lá de sem sentido... Desculpem-me eu ando meio chata por esses dias e um tanto perdedora...
O que sei é que de todas as pequenas coisas que li dela a que mais gostei diz respeito ao poema "Arte de Perder" com o qual encerro esse post que ficou pra lá de sem sentido... Desculpem-me eu ando meio chata por esses dias e um tanto perdedora...
Arte de perder
Elisabeth Bishop
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia.
Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério.
Nunca tinha lido sobre essa poetisa.
ResponderExcluirGostei da sua escolha de poema.
Nos faz uma interessante reflexão sobre perdas.
Beijo, Pand!
Sacudindo Palavras