quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sangrando


Enquanto tomava café, avistava pela janela um casal de pombos compartilhando singular sintonia. Pareciam tão iguais, embora suas cores formassem um jogo de luz e sombra, os espíritos exerciam mútua influência. Quisera todas as relações se embalassem desse jeito, não haveria tamanha injustiça no mundo.

O último mês se resumiria numa única palavra: injusto! Tudo por causa de um período de adaptação contraceptiva que a fez sangrar por mais de quatro semanas. Ela nunca havia experimentado ser mulher com tanta intensidade, não aguentava mais sua condição feminina.

Não que ela não gostasse de seus apetrechos, balanços e delicadezas, mas era um preço alto e doloroso demais para pagar. O mundo se transformou no sangue da sua própria ferida e ela queria ser estancada.

Em dias normais voava como um passarinho e pousava no telhado das casas para namorar. Noutros, feitos de aberrações como aquele, era tomada pelo humor descontrolado que despencava num poço sem fundo, um abismo sem ponto final.

Ela só queria um abraço mais que amigo, queria segurança-alegria e que fosse sempre diferente. Suspirava, suspirava só de imaginar inefável abraço, de mãos dadas, palavras-perfeitas, mergulharia sem medo de sentir algo tão imenso quanto o mar.

6 comentários:

  1. Isso foi intenso, como intensa é a cor do sangue que vez ou outra vertemos!!! Sofri junto!!!

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  2. Aff.. O que tenho passado com sangramento, ler isso foi intenso.
    Bjs!

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  3. Mesmo que ainda estejamos vivendo de sonhos com o momento desejado ao lado de quem amamos, tudo de amor vale a pena...

    Adorei o blog sigo com prazer, abraços.

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  4. Giuliara, as dores e os amores da condição feminina.
    Nunca gostei de ser "bicho esquisito, que todo mês sangra". Pra mim, uma inutilidade.
    Nem imagina a alegria do período pós!
    Engraçado que sonhamos tanto com a primeira vez...rsrs
    Espero calmaria daqui pra frente.
    Beijo!

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  5. As dores e as delícias de ser mulher... adorei teu texto!

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