sábado, 10 de março de 2012

SOBRE O MAU HUMOR


- Pai, a gente pode trocar de padrinho?
- Que é isso, filha?
- Eu quero que o Luiz seja meu padrinho.
- Mas seu padrinho é o Luiz....
- Né esse  não, pai, é o outro, o gordinho!
- Ora, filha, mas por quê?
- Ele gosta de mim, brinca comigo, me dá presente, vem aqui só pra me ver. O outro, que você vive me falando, acho que nem conheço mais. Ah, e nem ele me conhece! Deve ter me visto no batizado e nunca mais!
- Não! Ele já te viu, sim.
- Quando?
- É...é...é,...
- Tá vendo?  Nem você se lembra  mais!
- Olha, vamos fazer o seguinte, você adota o outro e fica com os dois, tá bom?
- Não,  não e não! Eu quero é só o gordinho. E pronto!

            A menina tinha nove anos e acabou conseguindo trocar num acordo meio espúrio com o pai, através da promessa de nunca contar para o renegado caso ele algum dia aparecesse.

            Sabe o mau humor? Não  estou falando desses momentos de desvio de rota de nossas bem intencionadas vontades, desejos, dos imprevistos e dos inesperados fatos que nos tiram do sério. Nem do cansaço que bate de vez em quando e não há nada que nos alegre. Momentaneamente! Momentaneamente!

            Existem umas pessoas cujo mau humor parece entranhado feito aquelas outras que de tanta alegria, riem até da desgraça. Não os tolos. Os alegres e de bem com a vida, faça tormenta ou calmaria.
O compadre era dos primeiros, dia e noite, noite e dia, entra ano e sai ano. Nada havia que não desse queixume, chororô. No fundo, para ele, ninguém prestava, trabalho nenhum era bom. Não havia profissional que fizesse coisa igual ou sequer parecida com ele. A desconfiança era seu cartão de visita a qualquer conhecimento novo, pessoas novas, situação nova. Tinha sempre, na ponta da língua um gume afiado de palavras de desalento, de descaso com o outro. Foi numa tentativa de aproximá-lo mais  de alguma alegria que deu a menina para batizar. Gostava dele, apesar de tudo. Seu mau humor não chegava a induzi-lo à maldade. Já eram amigos há tantos anos... Quem sabe a menina na sua inocência imaculada dos primeiros anos de vida não lhe trazia alguma razão pra ver a vida com olhos sem amargura?
A menina agora é uma mulher de vinte e dois, feliz da vida com o Luiz (o gordinho). Da última vez que encontrou o compadre na rua, já tinha mais de dez anos que não se viam. Um abraço forte, caloroso. Mas aquela cara de desânimo.
- E ai, compadre, como vai a vida? Há quanto tempo  não nos vemos...
- Pois é, rapaz, to lá ainda naquela merda de emprego. Ficam me perseguindo o tempo todo. Uns incompetentes.
- E o casamento?
- Uma porcaria. A mulher não ajuda, sabe como são as mulheres, né? Tô cansado, querendo mudar de emprego, a vida tem sido tão difícil, ganho pouco, a minha chefe só promove quem não merece... No mais tá tudo mais ou menos. E você?
Depois de tanto tempo uma recepção “calorosa” assim não tinha outra reposta:
- Bom compadre, eu tô atrasadíssimo, minha filha ta me esperando para um almoço (nem perguntou de sua ex-afilhada). Anote meu telefone novo ai. Me ligue depois para a gente marcar uma conversa. Foi um prazer revê-lo. Tchau!

4 comentários:

  1. rssssss...Sempre maravilhoso ,Cacá!!! Realmente isso acontece e nada mais chato!!!

    Pior é que tem gente que se oferece pra ser padrinho ou madrinha, quase nos colocam na obriga e depois? rs nem te conto!!!Já sabes! abração,chica

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  2. Não chamaria isso de mau humor. Mau humor é algo ocasional. Esse está mais para o eterno insatisfeito que quer que o mundo gire ao redor dele. Pessoa difícil de lidar, essa, hein?

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  3. Cacá, convivo com pessoas assim, pelo menos 2! rsrs Isso é uma doença, sabia? (esqueci o nome, agora).
    Olha, aconteceu comigo, dei meu filho pra minha irmã batizar, já era o nono ou décimo sobrinho dela, nenhum dos irmãos nunca a tinha convidado, lá fui eu...rsrsr Ela não dá muita bola pro afilhado, mas é daquelas que acha que padrinho/madrinha é quem dá o melhor presente e é boa nisso. Mas só...rsrs De resto, o mau humor dela afastaou a todos.
    Abraço!

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  4. Eu entendo o pai da menina, tenho alguns amigos ranzinzas incorrigíveis e como o pai dela as vezes fico tentando anima a pessoa, mostrar a ela algo positivo, mas não funciona nunca funciona... Pq esse mau humor é um tipo de doença e as vezes é até contagiosa!!!

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