terça-feira, 31 de julho de 2012

Falando de sonhos


Hoje eu estava assistindo a um dos filmes que ganharam o Oscar desse ano: A invenção de Hugo Cabret. Eu até que gostei, apesar de ter aquele jeito meio batido de se contar histórias, com vários clichês e modismos de Hollywood. Se o filme fosse apenas isso, teria sido um pé no saco, mas ele tinha um quê diferente na narrativa. Bom, na verdade acho que ela é meio híbrida, meio americana e meio afrancesada. Vou explicar o meu ponto:

Desde que vi O fabuloso destino de Amélie Poulain, associo o cinema francês com a simplicidade da vida cotidiana. As pessoas são pobres, mas não estão doidas para subir na hierarquia social. Talvez não sejam sempre tão felizes com o que tem, mas as atitudes que tomam para melhorar, não são tão necessariamente materialistas. Às vezes, o que falta para ser feliz é ter uma família, ou um grande amor. Pra mim isso é o paraíso, pois a necessidade de sempre adquirir alguma coisa me torna tremendamente infeliz. Seja nos filmes, seja na vida real. Porém, o que isso tem a ver com Hugo Cabret? Bom, por incrível que pareça, eu acho, que como a história se passa em Paris, Martin Scorcese resolveu contá-la com o espírito francês, apesar de a técnica utilizada ser tremendamente americana. Na minha opinião, essa mistura fez valer a pena assistir ao filme.

Além disso, minha atenção foi despertada para outro apelo que o filme traz: mostrar que a o gênero fantasia não é pura besteira. A parte que isso fica mais claro, e que é a mais bonita para mim, é a da homenagem ao senhor Méliès no cinema. Quando ele discursa, diz que vê as pessoas como elas realmente são: como magos, sereias e aventureiros. A idéia que ele quis passar, é que somos aquilo que pensamos ser, e nossos sonhos são parte da nossa personalidade. Infelizmente, não temos a chance de mostrá-la, porque é a parte mais sensível de nós, e a regra da sociedade é a auto-defesa, pois vivemos numa “selva” e obedecemos a uma “cadeia alimentar”. Quando vamos ao cinema ver um filme de ficção, resgatamos esse nosso eu super-protegido, e guardado tão profundamente, que é esquecido no dia a dia.

Se essa for mesmo sua função, eu adoraria trabalhar com a ficção. Achei lindo ser profissional em lembrar as pessoas de quem são. Há algum tempo acho que a realidade nos endurece e nos faz esquecer da nossa criança interior. No entanto, A Providencia sempre deixa disponível a cura para cada ferida. Adorei descobrir que as narrativas fantásticas são um tipo de remédio para os males do coração.

Estava muito errado quem primeiro disse que sonhar era para os fracos, ou que distanciava da realidade, fazendo as pessoas sofrerem. Sofre quem é apartado de seu coração, ou que o guarda só pra si, sem dar ao mundo o que tem de melhor. É claro que a realidade também tem que ser vivida, mas é preciso aprender a conviver com nossa natureza dual, nem lá nem cá, mas aqui e lá. Dentro e fora de nós mesmos.

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