terça-feira, 10 de julho de 2012

Xô Renato Russo! Eu vou naufragar com Gulliver.


Bom, este post não tem intenção de ser um merchindisin da banda Legião Urbana, mas como deu para perceber no post sobre o Paulinho da Viola, meus pensamentos sempre estão conectados à música.

Há algumas semanas atrás, quando estava meio desanimada, só conseguia ouvir Renato Russo cantar na minha cabeça a seguinte música:

"De tarde, quero descansar, chegar até a praia e ver, que o vento ainda está forte(...) e faço isso pra esquecer, eu deixo a onda me acertaaaar, e o vento vai levando tudo emboooraaaa!"

É engraçado que automaticamente a música ficou tocando na minha cabeça. Já nem me lembrava mais dela, mas ressurgiu das cinzas. No entanto, agora eu mando Renato Russo cantar em outra freguesia. Xõ melancolia!

A minha fuga do poço começou com alguns livros de aventura. O segundo deles é o clássico:"As viagens de Gulliver". Nesse livro, Johnatan Swift narra histórias que parecem ser de um diário de bordo. Acho que quem faz História ou Antropologia podia dar uma folheadinha, para entender o conceito de alteridade, e ver as divertidas, e às vezes, exageradas críticas que o autor faz à sociedade inglesa do século XVIII.

Gulliver é um infeliz cirurgião que naufragou várias vezes, e que conheceu diversas sociedades desconhecidas. Em todas elas ele explica como é a política e a economia inglesa, e a comparação com a nova cidade que ele descobre sempre revela as contradições de sua terra natal.

As minhas partes favoritas são as que revelam a alma humana. A parte política confesso que desconheço, pois a maioria das faculdades de História no Brasil dão preferência à história francesa.

Vou começar relatando um trecho sobre as mulheres de certa ilha que Gulliver visitou. Nesse lugar, as mulheres recebiam estudo e acompanhamento intelectual desde a infância para que no futuro, quando suas belezas se fossem, ainda pudessem servir aos seus maridos como uma boa companhia. É claro que é um discurso machista, mas se você cruzar com qualquer romance de Jane Austen, pode ver como era comum que as mulheres crescessem ignorantes. De certa forma, acho que ainda há muitas mulheres hoje em dia que não tem uma cabeça pensante, só a utilizam para colocar chapéu.

Numa outra localidade, Gulliver descreve uma ilha flutuante onde havia muitos filósofos e sábios que tinham condão de transformar coisas simples em coisas complicadas. Foi um lugar bem peculiar, mas ri demais quando o personagem descreveu um médico que tentava acabar com as cólicas de um paciente jogando ar dentro do ânus do pobre coitado.Acho que é uma crítica bem explícita aos filósofos e cientistas do século XVIII que debatiam temas muito abstratos, e a maioria da população não conseguia entender do que falavam.

Além dos filósofos e das mulheres, Swift faz uma crítica ao desejo humano de não querer morrer para gozar dos prazeres da carne (ele era padre) e à noção de superioridade do homem diante do resto da criação. No primeiro caso, Guliver se depara com pessoas que nascem com uma marca vermelha na testa e aquilo significa que ela não morre. O herói fica empolgadíssimo e conversa com o rei da ilha sobre o que faria se fosse imortal. O rei entretanto ri dele, pois tudo o que Gulliver falou que faria seria impossível de ser feito, já que aquelas pessoas que não morriam, estavam condenadas a envelhecer infinitamente, sem falar que quando chegavam aos 80 eram consideradas mortas e seus bens eram divididos pelos parentes. Quanto à superioridade do homem, o autor a ridiculariza quando fala sobre uma ilha em que os cavalos dominam os seres humanos. O engraçado dessa parte, é que Swift diz que o dialeto dos cavalos parece com o alemão, e fica bem visível que havia picuinhas entres ingleses e alemães na época na frase de um rei inglês: "Se que quiser falar com meu cavalo, falarei em alemão".

Fora isso, Gulliver vai parar em lugares, onde é maior que todos, ou menor que todos. É socorrido e às vezes escravizado. Algumas vezes também esteve no meio de intrigas e foi forçado a comprar a briga dos outros, em outras se deparou com reis bondosos e outros tiranos.Em todo tempo, porém, o autor nos brinda com uma visão diferente de nossa cultura, e assim nos faz olhar com estranhamento para nós mesmos. É por isso que essa leitura foi bastante agradável e divertida, a pesar de não dar muita vontade de devorar tudo de uma vez. Quem lê sente vontade de saber um capítulo por dia apenas, pois assim são os diários: pequenos capítulos da vida, que vamos aos poucos desvendando.

10 comentários:

  1. Eu nunca li As viagens de Gulliver, mas sempre tive vontade, no entanto hoje não sinto vontade de ler nada... nem os quatro livros que estão aqui na fila precisando serem lidos e resenhados!!! #TristeIsso

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. kkkkkknem fala em fila de livro. eu comprei uns 3 e temais um do saleta pra ler e outro do vitrine que tá pra chegar. tenso...

      Excluir
  2. As viagens de Gulliver é mais um clássico que eu morro de vontade de ler!!!!! Adorei o post e vou confessar: tem dias que eu evito o Renato Russo justamente pra não cair na melancolia!

    ResponderExcluir
  3. CMachado, eu já fui em seu perfil achava que vc também é blogueira, adoro seus comentários são sempre pertinentes!!! E sim, nós blogueiros amamos essa interação, é assim que crescemos intelectualmente!!! E sim, espero mesmo que o animo volte, obrigada pela força!!!

    ResponderExcluir
  4. eu li faz muitos anos, tenho um obra dessa de uma coleção herança de família, bem diferente dessa capa. beijos, pedrita

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A minha capa também não é assim, mas foi a mais bonitinha que achei. Bacana vc ter uma herança de família. Adoro antiguidades*_*

      Excluir
  5. Confesso que é a primeira vez que leio com atenção sobre Guliver e achei muito interessante. Muito bo, mas essa das mulheres que não tem uma cabeça pensante e que só servem para colocar chapéu doeu lá na M@myrene (rs) . Pode até ser, mas conseguiam conquistar com o seu charme.

    Beijinhos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que isso Irene! Usar chapéu não significa falta de cérebro não kkkk mas muitas só podiam dar esse uso para as próprias cabeças.

      Excluir
  6. Fiquei muito feliz com seu comentario Machado! Trazer alegria é algo que gosto muito, por isso que a sua confirmação me deixou de bem com a vida^_^.

    ResponderExcluir
  7. Bem interessante e criativo, mas não tenho muita vontade de ler, quem sabe um dia...
    De qualquer forma, a resenha está muito boa.

    ResponderExcluir

Para receber as postagens por e-mail:

Digite seu email aqui:

Delivered by FeedBurner