Nos últimos tempos quando me perguntavam de onde sou eu
costumava responder que nasci em Itabira, mas me considerava de lá, de BH e de
Mariana, as cidades onde morei praticamente um terço de minha vida em cada uma.
Ultimamente estou em Itabira, para onde voltei faz um tempinho e me sinto um
completo estranho. Tive e oportunidade de ir a Mariana há pouco tempo e me
senti um estranho. Em BH eu nem preciso dizer isso, pois acho cidade muito
grande, lugar de alheamentos, impessoalidades e indiferenças. São tão comuns
que soa estranho quando há amabilidades. A desconfiança vem acompanhada daquele
ditado, “quando a esmola é muita, até o santo desconfia.” Fui comentar esse
estranhamento com uma amiga e ela me disse que as cidades cresceram muito, que as
coisas mudaram, que o mundo está evoluindo.
Quando ouvi esta última palavra fui acometido pela chatice que me ataca quando
me falam de evolução. Mas não briguei com ela, para não reforçar a minha
chatice.
Entretanto, nos prós e contras
inevitáveis que a gente vai contabilizando com as mudanças vivas, continuo
achando o interior um melhor lugar para se viver. Aqui ainda há gentilezas no
trânsito, muito embora ele não seja tão amistoso e nem tão selvagem como na
cidade grande. Aqui a gente ainda abre o portão de casa com menos medo. Aqui a
gente ainda costuma ser tratado com muita reverência no comércio. Outro dia
mesmo eu entrei numa farmácia e descobri que aquela velha história do fio do bigode está em franca atividade.
A moça me perguntou depois que eu comprei uns medicamentos se era para anotar
na caderneta. Nunca havíamos nos visto.
Aqui, assim, do nada, lhe dão bom
dia, boa tarde, boa noite aonde quer que se encontrem pessoas. Outro dia
também, saí para fazer quatro coisas na cidade em quatro lugares diferentes.
Fiz tudo e quando chego em casa, descobri que havia gastado apenas quarenta
minutos para fazer as quatro coisas. Fui correndo até a casa de minha irmã,
abismado, comentar com ela. Normalmente em BH esse tempo era o que eu gastava apenas
me deslocando até o primeiro lugar onde tivesse que ir. Ah, e já me policiei
também, minha falta de educação estava exagerada no trânsito. Aqui, nos locais
de maior fluxo, os carros costumam parar quando alguém pisa na faixa de
pedestres e esperam a pessoa atravessar a rua. Fiquei cheio das culpas ao
lembrar se naqueles 40 minutos anteriores eu não tinha deixado alguém de cara amarrada
comigo por não tê-lo esperado atravessar a rua.
Então, eu vou reforçando a ideia
de que eu sou de onde me sinto melhor, tiro o melhor para mim e dou o melhor de
mim, pois é isso que faz a gente amar um lugar e, portanto, criar uma
identidade através da memória afetiva com esse lugar. Idealista que ainda sou e
com esse propósito no coração dá vontade de um dia poder dizer verdadeiramente:
Sou cidadão do mundo.
Eu gostaria de conhecer uma cidadezinha pequena. Nas cidades grandes eu vejo muito do que vc falou sobre o medo e a desconfiança.
ResponderExcluirTambém sou chata quando alguém fala que certas coisas são evolução, na realidade sinto que estamos [in]voluindo, estamos nos apresentando cada dia menos humanos. Gosto do passar de vagar do tempo das cidades menores e de perder menos tempo com tudo, o que ainda me deixar brava demais, é a proliferação da fofoca que existe e reina em toda cidade pequena...
ResponderExcluirA fofoca é também uma forma de violência que desune, destrói amizades e relacionamentos, as vezes acho, ou tenho certeza "que eu não sou daqui"... rs
Gostei muito do teu texto, abraços
Janaina Cruz
Olá,
ResponderExcluirsabe, além de ser de BH moro numa região central aqui. diariamente lido com todos os problemas de uma cidade grande. acostumei-me com eles. não foi uma nem duas vezes que corri de assaltante a noite tocando em interfone de prédios residenciais e pedindo para eu entrar. já fui assaltada. já vi de tudo.
estranhamente me sinto totalmente a vontade em BH. chego a achar a cidade bucólica às vezes, rs.
sou uma pessoa totalmente urbana, dessas que nao sabe o nome do vizinho nem quer saber. acho que não conseguiria morar no interior, sinto que é aqui que as coisas acontecem. sei que é uma ilusão, mas, enfim, é no meio do caos que sou mais ou menos feliz.
ah, bem q achei q já tinha lido esse post, é vc cacá. beijos, pedrita
ResponderExcluirMuito obrigada pela visita!
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