sábado, 14 de julho de 2012

DE ONDE SOU MESMO?


Nos últimos tempos  quando me perguntavam de onde sou eu costumava responder que nasci em Itabira, mas me considerava de lá, de BH e de Mariana, as cidades onde morei praticamente um terço de minha vida em cada uma. Ultimamente estou em Itabira, para onde voltei faz um tempinho e me sinto um completo estranho. Tive e oportunidade de ir a Mariana há pouco tempo e me senti um estranho. Em BH eu nem preciso dizer isso, pois acho cidade muito grande, lugar de alheamentos, impessoalidades e indiferenças. São tão comuns que soa estranho quando há amabilidades. A desconfiança vem acompanhada daquele ditado, “quando a esmola é muita, até o santo desconfia.” Fui comentar esse estranhamento com uma amiga e ela me disse que as cidades cresceram muito, que as coisas mudaram, que o mundo está evoluindo. Quando ouvi esta última palavra fui acometido pela chatice que me ataca quando me falam de evolução. Mas não briguei com ela, para não reforçar a minha chatice. 
Entretanto, nos prós e contras inevitáveis que a gente vai contabilizando com as mudanças vivas, continuo achando o interior um melhor lugar para se viver. Aqui ainda há gentilezas no trânsito, muito embora ele não seja tão amistoso e nem tão selvagem como na cidade grande. Aqui a gente ainda abre o portão de casa com menos medo. Aqui a gente ainda costuma ser tratado com muita reverência no comércio. Outro dia mesmo eu entrei numa farmácia e descobri que aquela velha história do fio do bigode está em franca atividade. A moça me perguntou depois que eu comprei uns medicamentos se era para anotar na caderneta. Nunca havíamos nos visto.
Aqui, assim, do nada, lhe dão bom dia, boa tarde, boa noite aonde quer que se encontrem pessoas. Outro dia também, saí para fazer quatro coisas na cidade em quatro lugares diferentes. Fiz tudo e quando chego em casa, descobri que havia gastado apenas quarenta minutos para fazer as quatro coisas. Fui correndo até a casa de minha irmã, abismado, comentar com ela. Normalmente em BH esse tempo era o que eu gastava apenas me deslocando até o primeiro lugar onde tivesse que ir. Ah, e já me policiei também, minha falta de educação estava exagerada no trânsito. Aqui, nos locais de maior fluxo, os carros costumam parar quando alguém pisa na faixa de pedestres e esperam a pessoa atravessar a rua. Fiquei cheio das culpas ao lembrar se naqueles 40 minutos anteriores eu não tinha deixado alguém de cara amarrada comigo por não tê-lo esperado atravessar a rua.
Então, eu vou reforçando a ideia de que eu sou de onde me sinto melhor, tiro o melhor para mim e dou o melhor de mim, pois é isso que faz a gente amar um lugar e, portanto, criar uma identidade através da memória afetiva com esse lugar. Idealista que ainda sou e com esse propósito no coração dá vontade de um dia poder dizer verdadeiramente: Sou cidadão do mundo.

5 comentários:

  1. Eu gostaria de conhecer uma cidadezinha pequena. Nas cidades grandes eu vejo muito do que vc falou sobre o medo e a desconfiança.

    ResponderExcluir
  2. Também sou chata quando alguém fala que certas coisas são evolução, na realidade sinto que estamos [in]voluindo, estamos nos apresentando cada dia menos humanos. Gosto do passar de vagar do tempo das cidades menores e de perder menos tempo com tudo, o que ainda me deixar brava demais, é a proliferação da fofoca que existe e reina em toda cidade pequena...
    A fofoca é também uma forma de violência que desune, destrói amizades e relacionamentos, as vezes acho, ou tenho certeza "que eu não sou daqui"... rs

    Gostei muito do teu texto, abraços

    Janaina Cruz

    ResponderExcluir
  3. Olá,
    sabe, além de ser de BH moro numa região central aqui. diariamente lido com todos os problemas de uma cidade grande. acostumei-me com eles. não foi uma nem duas vezes que corri de assaltante a noite tocando em interfone de prédios residenciais e pedindo para eu entrar. já fui assaltada. já vi de tudo.
    estranhamente me sinto totalmente a vontade em BH. chego a achar a cidade bucólica às vezes, rs.
    sou uma pessoa totalmente urbana, dessas que nao sabe o nome do vizinho nem quer saber. acho que não conseguiria morar no interior, sinto que é aqui que as coisas acontecem. sei que é uma ilusão, mas, enfim, é no meio do caos que sou mais ou menos feliz.

    ResponderExcluir
  4. ah, bem q achei q já tinha lido esse post, é vc cacá. beijos, pedrita

    ResponderExcluir

Para receber as postagens por e-mail:

Digite seu email aqui:

Delivered by FeedBurner