quarta-feira, 21 de março de 2012

Especial Falando de Amor: Die Liebe


Há algum tempo que tenho por teoria principal que certas pessoas não conseguem suportar a própria companhia e por isso podem ser sempre vistas metidas no que costumo chamar de "relacionamentos fracassados" por não encontrar palavras melhores. Não creio que seja falta de amor-próprio, creio mesmo que seja tolice, aquela fé antiga de que é necessário ter outra pessoa ao lado para poder ser feliz.

Dos casais que conheço, apenas dois ou três me fazem acreditar que estão juntos por amor. Casais que num simples olhar deixam claro que estão bem juntos, que não precisam ficar se chamando de "amorzinho" e se abraçando quando estão na frente de outras pessoas. Casais que, é possível perceber de longe, não têm aquele lista gigante de brigas e de términos. Casais em que se percebe que nenhum suga o outro e que se respeitam do modo que são, com os amigos e manias que têm.

Mas o que me espanta mais é perceber que pra algumas pessoas é tão fácil dizer "eu te amo" como é fácil, depois de uma briga tola, encher o outro de xingamentos. E em seguida voltar pro "eu te amo". Aí depois de muito vai e vem, é ainda mais simples terminar de vez o namoro e ficar para sempre remoendo mágoas e taxando tal relacionamento como um desastre e o colocar no período negro da vida. Nem é preciso dizer que tal ser jamais permitirá que o nome do antigo grande e eterno amor de sua vida seja pronunciado sem que dê um grito ou, na mais pacífica das hipóteses, um resmungo.

Pode ser utópico demais, mas é aceitável diante de uma reconhecida fã das baladas jovenguardianas e leitora de Jane Austen, que eu acredite que o amor real é aquele em que as duas pessoas são felizes como são, que se sintam bem uma com a outra, que não se ocupem em convencer os outros da sua felicidade, mas que apenas deixem as coisas acontecerem. Se não der certo nos dias seguintes, o que importa? Tenho pra mim que as lembranças nos mantêm em pé, enquanto ficar remoendo erros e tristeza só nos prejudica. Por não ser eterno, não quer dizer que não deu certo. A partir do momento em que há boas memórias, sim, deu certo.
Desconfio das pessoas que estão sempre com namoros firmes, um após o outro. Acho que uma pessoa só é realmente feliz quando consegue ser feliz consigo mesma, aí poderá ser feliz com outrém. "Agora eu posso até gostar de você, completamente eu vou poder me entregar, é bem melhor você sabendo se amar." Bom, essa citação fala de amor-próprio e eu disse aí em cima que não acreditava ser essa a falta que afetava as pessoas que estão sempre metidas em movimentados e fracassados relacionamentos, acho que falta é vontade das pessoas se darem um tempo, descobrirem quem são e o que querem, descobrirem o que é realmente amor-próprio e que um pouco de egocentrismo não faz mal a ninguém (como bem prova a canção da qual tirei tal frase).

E a consequência dessa falta de atenção que as pessoas dão a si mesmas eu vejo em todos os cantos, não apenas nesses relacionamentos fracassados. Vejo na falta de amizades reais, e aí me refiro a amizades que têm coragem de criticar e capacidade de acalmar; vejo no modo de tratar a pessoa que está ao lado; vejo no modo de aceitar a definição que dão a certa pessoa ou cultura; vejo, simplesmente, na preguiça de sorrir sem compromisso algum. Vivemos em um mundo tão conturbado que é fácil se deixar reprimir com o medo da violência ou da traição de confiança, o difícil é deixar a armadura de lado e ser simplesmente quem se é, tratar as pessoas com simpatia sem espera de retorno e aproveitar enquanto a vida segue.


Esse texto teve sua ideia originada na proposta de blogagem coletiva da Aleska, não sei se me encaixo no que era proposto, mas de qualquer modo, está escrito. Registro aqui que, logo que li a proposta, meu inconsciente resgatou a voz de Frejat cantando "Amor, meu grande amor". Fui em busca da imagem no youtube ao que meu cérebro deu som, e descobri que a música é originalmente da Ângela Ro Ro. Além dessas duas belíssimas versões, encontrei a que segue abaixo, da Ângela Ro Ro cantando com o Paulinho Moska (ex-Inimigos do Rei). Não poderia deixar de colocar essa canção aqui, pois tem uma letra admirável, da qual destaco o verso:

"Amor, meu grande amor, só dure o tempo que mereça"


_________________

Texto publicado originalmente no "Alguma coisa a mais para ti ler", pela blogueira Ana Seerig.


2 comentários:

  1. Essa Ana e seus textos incríveis...
    Como sempre amei...
    Boa escolha, Pandora!!!

    Bjs!!!

    ResponderExcluir
  2. Um texto lúcido. Amar não é nada simples, na verdade é bem complicado. Falo do amor homem/mulher, que é o mais badalado, acho que até mais que o amor de mãe/filho. Duas pessoas estranhas, que se juntam um dia, e querem acreditar que tudo é só um mar de rosas. Não é.
    Mas a gente tem sempre que acreditar!
    Entrar na relação com fé e coragem, além do amor, claro!
    Beijo, Pan.
    Beijo, Ana.

    ResponderExcluir

Para receber as postagens por e-mail:

Digite seu email aqui:

Delivered by FeedBurner