sábado, 13 de agosto de 2011

Vocação




A ideia era escrever contos. Falar de si mesma em situações inventadas. Um alterego. Descobriu o quanto isso era complexo, não sabia como conduzir aquela voz dotada de faltas e de desejos.

Era chamada e não sabia como ir. Por isso lia muito. Nos livros tudo fluía com animadíssima prospecção. Adquirira outro olhar de leitor, seguia cada linha com prazer, um prazer que estava além da contemplação e analisava cada palavra e cada escolha do autor – uma leitura atenta.

Parecia que as histórias eram feitas de matérias borbulhantes que despontam de um caldeirão fervente, o que não é verdade. Os cozinheiros não são bons escritores. Uma boa história exige bons tecedores. Há que se saber tecer um emaranhado de fios como num tear, todos alinhados e conectados. O que parecia uma confusão é o ponto de tensão maior para o desenlace final – o tapete.

Há de se ter um conflito. Sem ele todo resto é dispensável. Onde encontrar esse ponto maléfico e transformá-lo em palavras? Em qual gaveta de sua mente teria guardado? Ela deve fazer uma busca minuciosa até achar uma porção de maldade suficiente para traçar alguma trama.

E então, despertar e aprimorar sua vocação para a escrita.


* Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não saber como ir. (Clarice Lispector. In: A paixão segundo G. H.)

4 comentários:

  1. Olá Giuliara,
    Chegou aqui neste espaço e me identifico completamente com seu texto. Como disse Clarisse, às vezes ouvimos o chamado, mas não sabemos como ir.

    Acredito que mesmo tendo muito talento, não se dispensa a técnica, o refazer à exaustão. É preciso continuar, sempre. Juarez Machado diz que pinta muitos quadros, pois acredita que se pintar mil quadros, terá mais chances de pelo menos um sair genial. rss
    Bom, acho que é por aí.

    Boas escritas para você.

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  2. A escrita é como os outros dons:é preciso a prática.Aprimorar é extremamente necessário. Abraços

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  3. Giuliara, acho que tenho vocação, adoro escrever. E um pouquinho de talento. Só que gosto muito de escrever como se fosse para mim. Não apenas sendo sobre mim, mas como se eu sempre fosse a protagonista, entende? Não consigo separar a realidade da ficção, estou sempre me vendo naquela pessoa sobre a qual escrevo. Meio louco...
    Tenho que aprimorar, sem dúvida!
    Beijo!

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  4. Mas as linhas que teces são trançadas fios de vocação e talento. Meus olhos correm soltos pelas linhas e por isso eu leio, na esperança de ler um dia uma fantasia que caiba em mim!

    Meu grande beijo!!

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