quarta-feira, 4 de maio de 2011

TÁ PEGANDO QUEM?

A contabilidade já foi uma fria matéria de números resultantes das perdas e ganhos de financistas e produtores em geral. Agora está nos quentíssimos diários de beijos das meninas e nas embaladas conversas de meninos. Quantos beijos e quantas namoradas(os) no melhor estilo: - “tá pegando quem?” como se tirassem alguma mercadoria da prateleira para usar e devolver ou jogar fora e trocar por outra mais vistosa, cheirosa e gostosa. É um termo usual, muitos poderão dizer que é da moda, é da onda, é maneira, véi.  Eu tô ligado, mas não me conformo mesmo assim. Entre tantos insultos à dignidade humana, entre tantas insignificâncias que estamos adquirindo para suprir nosso lado gente e empatarmos pari passu com as mercadorias, “tá pegando quem?” para mim está num dos primeiros lugares em termos de desmerecimento humano.

Hoje, tratarmos esse termo por conta das idéias de machismo e antigos ideais de feminismo não encontra mais eco no meio da juventude que sequer se dá ao trabalho de pensar a individualidade e a auto determinação como valores psicológicos e sociais. Estão em sua maioria nos embalos do que ditam os valores econômicos para serem transmitidos subliminarmente ao seu comportamento. Individualismo é a palavra mais apropriada para se conceituar as bases que sustentam o trato entre uma pessoa e outra ou entre uma pessoa e o restante da coletividade. É desmerecimento à medida que não se buscam mais outras formas de se qualificar relações fora de um sistema que envolva recompensas materiais palpáveis e imediatas.  Qualificar, aliás vem sendo um gesto afirmativo de quanto vale, quanto custa, qual o resultado em termos de ganhos. Usurpou o significado de quantificar.  Não arreda pé de um materialismo insistente em ser a única forma de valoração humana. Assim, o “Tá pegando quem?” significa uma materialização do indivíduo em um  formato de coisa , de objeto de uso e descarte. Claro que os sentimentos podem acabar aflorando em algum momento, mas ele dificilmente vai se descolar da base que o originou: o ser coisa-propriedade, bem de consumo. Aí, quando e se aflorarem sentimentos é que vai ser determinado se o bem será de consumo durável ou não durável, tal como fazemos com os objetos e utensílios que nos emprestam alguma serventia no nosso dia-a-dia. Talvez por isso, complementem o desmerecimento tão gravemente com a uma ameaça velada a quem não se enquadra ou não quer fazer parte do jogo por qualquer motivo, dizendo: “a fila anda”.

8 comentários:

  1. Fico triste ao ver essas coisas. Tudo tratado tão friamnete, como coisas...

    Há festas de gurizada de 123/14 anos onde fazem filas de pegação e ao final contam quantas pegaram...Pode?/ Cadê o coração?

    Não sei, mas não me acostumo com isso!

    abração,linda como sempre tua crônica! chica

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  2. Oi José Cláudio!
    Daí vemos os rápidos casamentos, da falta de reséito já cristalizados nos jovens desde cedo. Fico assombrada com o machismo que impera hoje nos jovens e que não vejo em homens de minha época. Meus filhos são extremamentes machistas e vêm a mulher de uma maneira que fico triste, meu marido não é assim. É incrivel! Vejo hoje adolescentes novos que saem para a balada com o intuito de beijar e no final contabilizar, ver quem ganhou! E os valores desses futuros adultos qual vai ser? Triste futuro!
    Abs

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  3. Adorei o post ter sido escrito por um homem! Penso da mesma forma. Tá tudo banalizado. Quem acompanha essa novela da Globo tá sentindo o drama... tudo fácil e simples, sem consequências... Sempre falei pra minha mãe que seria diferente dela, que meus filhos fariam tudo que ela me proibia. E olha que ela me proibia poucas coisa. Agora acho que serei bem pior que ela... fico estarrecida com o que vejo e ouço. E triste, muito triste com a permissividade de pais e dos jovens...
    Fabiana

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  4. A banalização do que chamávamos paixão e durava uma eternidade, mesmo que só fossem alguns meses, tirou de nossos adolescentes a magia, o encanto da idade.
    Concordo com você que as consequências não são medidas e a competição uma falta de amor próprio.
    Será mais uma fase, ou isto vai piorar? O que me impressiona é o incentivo e depois o aval ou simplesmente a falsa ignorância dos pais.

    Bjs no coração!

    Nilce

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  5. Tempos estranhos para tudo...até para o amor...parece que vamos de miopia em miopia até à cegueira geral...
    Excelente texto!

    Abraços

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Cacá, só vou assinar embaixo.
    Esse texto é meu, timtim por timtim... rsrsr
    Abraço, amigo.



    5 de maio de 2011 16:09

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  8. Olha, Cacá, eu concordo plenamente com seu raciocínio e vou lhe dizer mais, meu filho também. Ele não usa estes termos porque também o considera uma forma banal de tratar as mulheres, mas o pior é ue já ouvi esta expressão "tá pegando" de menina para menina. O fim!
    abraço carioca

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